terça-feira, 1 de maio de 2012

Lágrimas de Sangue


Reza a lenda que em uma cidade do interior vivia uma linda garota, que se vestia sempre de preto e usava maquiagens escuras, que escondiam toda sua beleza. Muitas vezes essa menina ia ao cemitério, onde ficava horas e horas, e algumas vezes era vista falando, como se alguém tivesse perto dela ouvindo-a, porém jamais havia pessoa alguma junto da garota.
Em um fim de tarde, o coveiro, que de tanto ver a garota falar sozinha por lá, resolveu perguntar com quem ela conversava e recebeu como resposta: “Eu converso com amigos e parentes que estão mortos”. Sem saber o que falar, ele apenas virou as costas e se afastou.
No dia seguinte, o coveiro viu a menina no mesmo lugar falando com ninguém, mas logo ela se levantou e veio caminhando em direção dele, com o rosto aflito, como se algo muito ruim tivesse acontecido e antes mesmo que ele pudesse dizer uma palavra, ela falou: “Hoje vou mais cedo, pois alguém lá dentro me falou que o motivo da minha angustia é o que vou fazer um passeio onde chorarei lágrimas de sangue e que na próxima vez que eu vier aqui estarei com os olhos fechados”.


Mais uma vez sem saber o que fazer e falar, o coveiro apenas observou enquanto a menina, que a essa altura ele achava que era louca, ir embora pela rua.
No outro dia o coveiro fazia sua caminhada solitária pelo cemitério em um triste final de tarde, quando percebeu que a menina não estava no lugar que costumava ficar. Pensando que talvez ela tivesse desistido daquela loucura, ele foi andando em direção necrotério, onde um velório estava em andamento. Como se alguma coisa o tivesse levado até ali, ele se aproximou e perguntou a um dos funcionários do local, quem estava sendo velado:
- Estão velando uma pobre menina que foi assassinada ontem, pobre garota tão jovem e bonita, foi atacada e teve os dois olhos furados com uma faca, antes de lhe cortarem a garganta… Coisa horrível, ela vai ser enterrada hoje, daqui meia hora no cemitério.
O coveiro com os olhos arregalados, rapidamente pensou que talvez fosse a menina que sempre vinha ao cemitério. Sem pensar muito ele adentrou no velório e chegou perto do caixão. Nesse momento um tremor percorreu toda sua coluna, pois quem jazia no caixão era a tal garota que conversava com os mortos.
Alguns dias se passaram e ele deixou a história de lado, até que em um fim de tarde, quando ele fazia sua caminhada pelo cemitério e estava chegando perto do túmulo da menina, ele começou a ouvir uma voz sussurrando, mas não havia ninguém, apenas o lugar totalmente vazio. Sem pensar duas vezes ele virou-se e deixou sua ronda incompleta.
No dia seguinte, duas garotas vieram visitar a falecida e quando saiam do lugar, pararam e perguntaram ao coveiro se mais alguém havia visitado o túmulo dela nesses dias. Ele respondeu que não, apesar de achar a pergunta estranha.
No outro dia uma das meninas veio novamente, fazer uma visita sozinha a sua amiga morta no final da tarde. Poucos segundos depois de chegar ao túmulo, o coveiro viu ela se virar e sair correndo e gritando, rapidamente ele foi atrás da garota e a perguntou o que aconteceu, ela respondeu em meio às lágrimas:
- Eu vi ela, eu vi ela! Estava lá com os olhos cheio de sangue, sangue escorrendo como se fossem lágrimas, ela ficou me olhando, com o olhar vazio e o rosto triste!
Ele ficou com o pé atrás, mas no outro dia sua curiosidade foi maior que tudo e acabou indo visitar o túmulo da garota, chegando lá se deparou com as rosas que as outras meninas haviam deixado, elas estavam em perfeito estado, mas com os espinhos cheios de sangue e na lápide estava escrito: “Não tenha medo de mim, sou uma pobre alma amaldiçoada e sofrida.”
No segundo que ele terminou de ler, começou a erguer os olhos lentamente, centímetro por centímetro, e quando sua cabeça estava virada para cima, ele viu na sua frente uma garota pálida e loira, com os olhos cheios de sangue e o rosto distorcido de sofrimento.
Depois daquele dia, o coveiro jamais voltou aquele cemitério e contava que quando o sol começa se esconder no horizonte, era possível ouvir e as vezes até mesmo ver uma menina sair correndo do cemitério segurando rosas em suas mãos e com os olhos sangrando.
Dizem também que a primeira garota que viu a amiga morta agora vai todos os dias ao cemitério e senta em frente ao túmulo da falecida. E fica ali conversando sozinha ou quem sabe tentando acalmar e consolar a alma de sua amiga assassinada…




                                                             

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